Alguns cristãos não vêem filosofia com bons olhos. Alguns usam o texto de 1Coríntios – que diz: “Pois resolvi não saber coisa alguma entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado” – como desculpa para estudar unicamente a bíblia. Para mim, a bíblia sempre será – como eu gosto de chamar – o meu manual sobre como viver. Mas, será que os outros estudiosos não tem nada a oferecer? Alguns cristãos nem sequer a estudam, pois acham que este conhecimento foi feito para desviar nossos olhos de Cristo, mas será que estes filósofos, em sua busca da verdade, não poderiam chegar perto das verdades que encontramos na bíblia? Pretendo com esta postagem, mostrar que a sabedoria, se buscada verdadeiramente, andará em paralelo com as verdades da bíblia. E por que não começar com o grande Mito da Caverna de Platão?
O Mito da Caverna é conhecido por muitos, mas nem todos lerão as palavras de Platão. Para fazer esta postagem li o trecho do livro “A Republica” de Platão, onde encontramos o dialogo entre Sócrates e Glauco. Com o passar do tempo, o mito foi contado por muitos e que acabam esquecendo detalhes importantes sobre o mesmo, por isso vou usar o texto original de Platão para completa compreensão do mito.
Sócrates começa com a seguinte frase: “Figura-te agora o estado da natureza humana, em relação à ciência e à ignorância, sob a forma alegórica que passo a fazer.” Em uma caverna, existem pessoas presas desde a infância, com o pescoço e as pernas presos de modo que permanecem imóveis e só vêem os objetos que lhes estão diante; suas cabeças estão presas e não podem voltar o rosto para nenhum lugar, a não ser para uma parede. Atrás deles, a certa distância e altura, um fogo cuja luz os ilumina. Entre a luz e os presos, homens passam com bonecos na frente do fogo. A luz é usada para projetar a sombra dos bonecos, sejam de pessoas ou animais – como se fosse um cinema. Eles só vêem as sombras; não conseguem ver os outros que estão presos. Como é permitido aos homens falarem, eles começaram a conversar entre si e darem nomes para as sombras. Com o eco da caverna, eles escutariam as palavras daqueles que passam os bonecos e julgariam que o som vem das sombras. Sócrates contribui dizendo: “Em suma, não creriam que houvesse nada de real e verdadeiro fora das figuras que desfilaram.” Então um destes prisioneiros é solto e levado para fora da caverna. No começo, o ex-prisioneiro teria problemas em se acostumar com a luz. Sócrates complementa dizendo: “Chegando à luz do dia, olhos deslumbrados pelo esplendor ambiente, ser-lhe ia possível discernir os objetos que o comum dos homens tem por serem reais?” Como o próprio Glauco responde – e nós logicamente também responderíamos – que a principio o ex-prisioneiro nada veria. Sócrates continua dizendo: “Ele precisaria de algum tempo para se afazer à claridade da região superior. Primeiramente, só discerniria bem as sombras, depois, as imagens dos homens e outros seres refletidos nas águas; finalmente erguendo os olhos para a lua e as estrelas, contemplaria mais facilmente os astros da noite que o pleno resplendor do dia.” Então, o ex-prisioneiro vê os astros no céu, as pessoas, seu reflexo na água e tantos outros; ele gradualmente chegaria à conclusão que tudo que antes ele e seus amigos, ainda prisioneiro, conheciam como verdade era na realidade sombras. Então, o ex-prisioneiro é colocado de volta na caverna e se assenta de novo onde antes ele ficava preso. Se ele tiver que dar sua opinião sobre as sombras, ele diria que elas não passam de sombras da verdade. Os outros prisioneiros não ririam dele sobre suas idéias malucas sobre a realidade? No final, o ex-prisioneiro e o seu libertador poderiam ser agarrados e mortos por estarem dando testemunho de algo fora da realidade. Sócrates, então diz: “Pois agora, meu caro Glauco, é só aplicar com toda a exatidão esta imagem da caverna a tudo o que antes havíamos dito.”
Vamos buscar, com Sócrates, entender está alegoria sobre a ignorância. Vamos começar pela caverna. Ela é, para o filósofo, o mundo visível. O fogo que ilumina a caverna é os nossos sentidos e como nos reconhecemos à caverna e as sombras são por meio desta luz. As sombras são as imagens dos objetos ou das pessoas que aparecem diante do fogo. Estas sombras dão apenas uma idéia do que é o objeto, mais não a compreensão completa do objeto. Seu libertador seria um filosofo, levando o prisioneiro para a luz com a ajuda da filosofia. A luz do dia representa o conhecimento da verdade. Com a luz do dia, o ex-prisioneiro pode contemplar e conhecer a diferença do que eram as sombras e o que eram os objetos e pessoas reais. Os outros prisioneiros que poderiam debochar e até matar o ex-prisioneiro e seu libertador é referente à ignorância dos outros – os presos na ignorância – em aceitar um novo pensamento. Este texto foi escrito por Platão, que faz no final, uma alegoria sobre a morte de Sócrates; ele foi condenado à morte por “corromper a juventude e de desprezar os deuses da cidade”.
Agora que o Mito da Caverna está claro, vamos ver ela em paralelo com a Bíblia. Diga-me, caro leitor, vocês conseguem ver alguma ligação com a realidade encontrada na bíblia? Para entender esta alegoria em paralelo com a Bíblia, vamos dividir em duas etapas; na caverna e fora da caverna.
A Caverna não foi escolhida por um acaso. Ela tem características bem marcantes, que devemos analisar. Primeiramente, a Caverna é um lugar onde a predominância é trevas. João 12.35b diz: “Pois aquele que anda nas trevas não sabe para onde está indo.” É mais do que claro – e lógico – que estar na escuridão é estar perdido. Em Romanos 13.12b, diz: “Rejeitemos, pois, as obras das trevas, e vistamo-nos das armas da luz.” Aqui, vemos a referencia das obras ruins. Não é só na bíblia que encontramos a palavra trevas em referencia a algo ruim, maldoso, pecaminoso, diabólico e tantos outros. Alguns podem não concordar, mais eu concordo com o apostolo Paulo quando ele se refere que as obras ruins são feitas na escuridão, para que ninguém possa vê-las e recriminá-las. A Caverna representa o mundo visível e como no próprio mito diz; ele é descoberto unicamente pelos cinco sentidos.
Dentro da caverna, existem homens presos. As correntes que prendem os homens e direcionam-nos para verem apenas as sombras na parede representam nossa essência pecaminosa e maldosa. Mateus 15.19 diz: “Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.” Nossa essência é má e do nosso coração partem todas as coisas ruins. Para os mais céticos, fica a pergunta: “É preciso ensinar uma criança a mentir, ou a ser bruta com outra criança ou ser egoísta? Não, ela faz isso por conta própria.” Jeremias 17.9 diz: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” Novamente, encontramos outro verso que declara que nossa essência não é voltada para Deus e novamente, para os mais céticos fica a pergunta: “Se eu pegar todos os seus pensamentos, desde o momento que você acorda até presente momento, e pude-se colocar ele num vídeo e mostrar par a todos, qual seria sua reação?” Isaias 64.6 diz: “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades como um vento nos arrebatam.” Todas as nossas melhores obras, sejam elas boas e puras, diante de Deus não passam de trapo de imundícia e que somos imundos.
O fogo que faz a projeção das sombras representa o nosso intelecto e nossos sentidos. Com ele reconhecemos as sombras, mais independente da quantidade do fogo, às sombras sempre serão sombras. Em 1Coríntios 3.19, vemos que: “Porque a sabedoria deste mundo é loucura aos olhos de Deus. Pois está escrito: “Ele apanha os sábios na astúcia deles’ e também: ‘O Senhor conhece os pensamentos dos sábios e sabe como são fúteis’.” As declarações de Deus mostram que até o sábio é visto como tolo. É mais do que claro que sozinhos, não conseguiremos conhecer a Deus.
As Sombras que são refletidas na parede seriam todas as coisas em nosso mundo. Não conseguimos contemplar a realidade deste mundo com a fogueira do nosso intelecto. Vemos em Colossenses 2.17 uma referencia sobre as sombras: “Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa ou à celebração das luas novas ou dos dias de sábado. Estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo.” Vemos claramente neste versículo, que mesmo qualquer ato, sem a luz de Cristo, será apenas sombras. Hebreus 10.1 diz: “A Lei traz apenas uma sombra dos benefícios que hão de vir, e não a sua realidade. Por isso ela nunca consegue, mediante os mesmos sacrifícios repetidos ano após ano, aperfeiçoar os que se aproximam para adorar.” Mesmo a Santa Lei de Deus não passa de uma sombra para nós. Não por que a Lei é ruim, vemos em Romanos 7.12 que a Lei é santa, justa e boa. O problema somos nós. Romanos 8.3a diz: “Porque, aquilo que a Lei fora incapaz de fazer por estar enfraquecida pela carne” A Lei nos condena; nossa imperfeição de caráter, intelecto e santidade testemunham contra nós. Está mais do que claro que nossa fogueira nunca será o bastante para poder encontrar a verdade.
Agora vem a parte voltada para fora da caverna. Nosso libertador é o Espírito Santo. João 16.8 diz: “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo.” Nós homens, não temos como nós libertar das correntes do pecado. Está é a obra do Espírito Santo. Deus o enviou para ser nosso libertador em Cristo Jesus. 1Coríntios 2.10 diz: “mas Deus o revelou a nós por meio do Espírito.” Neste capitulo, encontramos a sabedoria como procedente do Espírito Santo. 1Pedro 1.2, diz claramente que somos escolhidos de acordo com o pré-conhecimento de Deus Pai, pela obra santificadora do Espírito Santo. Com o auxilio do Espírito Santo, somos levados para fora da caverna e contemplamos a verdadeira luz. Está luz é Deus e é manifestada entre os homens por meio Jesus Cristo. Em João 8.12, Jesus declara: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.” 2Coríntios 4.6 diz: “Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo.” Está luz, que veio de Jesus Cristo, nós conseguimos contemplar tudo que antes eram apenas sombras. Agora, vemo-las como realmente elas são. Descobrimos que antes vivíamos em uma grande mentira, nossos olhos só viam as sombras e acreditávamos que elas eram a realidade. João 1.4-5 há outra menção da luz que encontramos em Jesus: “Nele estava à vida, e esta era a luz dos homens. A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram.”
A volta da caverna é algo muito interessante, pois ela é o retrato claro daquele que acabou de conhecer a Deus, e volta para falar com seus parentes e amigos, e é recebido como louco ou com simples risadas. Aqueles que conhecem verdadeiramente a Deus se lembram do dia que anunciaram a sua nova descoberta e foram expostos a humilhações e chacotas. Filipenses 1.28b-29 diz: “Para eles isso é sinal de destruição, mas para vocês, de salvação, e isso da parte de Deus; pois a vocês foi dado o privilégio de não apenas crer em Cristo, mas também de sofrer por ele.” Para nós, Jesus Cristo é sinal de salvação, mais para aqueles presos na caverna, é sinal de destruição. Da mesma maneira, o problema que todo novo cristão se depara é o mesmo que acontece com o ex-prisioneiro quando volta para a caverna. Aqueles que estão presos não acreditam nele, por vários motivos, mais vou deixar dois em evidencia. O primeiro é que, como eles só conhecem o mundo com sua fogueira, eles nunca conseguiram entender e deslumbrar o mundo real. O segundo motivo nós encontramos em João 3.19-20, que diz: “E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.”
Vemos muitos cristãos, que como Sócrates, são condenados a morte com falsas acusações. Sócrates conseguiu muitos inimigos, pois ele demonstrava que eles eram maus, hipócritas e egoístas. Ele era muito conhecido por suas investigações; aquele que investiga, questiona; aquele que questiona, perturba a ordem estabelecida. Isso fez surgir muitos inimigos de Sócrates. Da mesma maneira surgem os inimigos da igreja e dos verdadeiros cristãos.
Para você que não conhece a Deus, fica a alegoria da Caverna de Platão. Para Sócrates a sabedoria é fruto de muita investigação que começa pelo conhecimento de si mesmo. Busque descobrir se esta alegoria é verdadeira e que você é um prisioneiro. Se sua conclusão for caminhando para o que eu coloquei, busque a Deus e que ele te envie o libertador das tuas correntes. Quando isso acontecer, ele te levará para fora da caverna e você contemplará a luz que existe em Jesus Cristo.
No princípio [Jesus] era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus. Ele estava com Deus no princípio. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito. Nele estava a vida, e esta era a luz dos homens. A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram. [João 1.1-5]